Não. Não é por ser um trabalho exigente ou difícil como muitos justificam.

Profissões que exigem o melhor de nós ou que são difíceis sempre existiram e não é por isso que entram em risco de extinção. E também não se pode apenas responsabilizar o boom da industrialização ou dos chineses. Existe em cada um de nós uma cota parte de culpa.
Posso falar enquanto 1º pessoa: perguntando à Esperança Vitória de 17 anos, porque desistiu à primeira oportunidade do artesanato da família que aprendeu quando ainda nem sabia ler?
A resposta estaria na ponta da língua:
- Porque não é sustentável viver do artesanato. Porque não é justamente remunerado. Porque não terei um futuro estável a dar aos meus filhos.
Se visse os seus pais toda a vida a sobreviver de uma arte que não chegava para pagar as contas e pôr a comida em cima da mesa - apesar das 3 filhas ajudarem a tecer cestas - a trabalhar no artesanato como complemento ao ordenado da fábrica onde trabalhavam - você iria querer viver da mesma maneira que os seus pais sobreviveram?
A adolescente Esperança Vitória de 17 anos não quis. Desistiu e afastou-se da arte por mais de 20 anos apesar de os pais terem feito artesanato até ao último sopro de força.
Até chegar aos 38 anos, sem se sentir realizada pessoal e profissionalmente e ter embarcado no que muitos na sua aldeia natal - Castanheira, Alcobaça - (e que provavelmente a menina de 17 anos teria rido da ideia) disserem ser o impossível e um ''tiro no pé'': despedir-se de um emprego estável de 14 anos, em troca da insustentabilidade do artesanato.
Loucura, muitos disseram. Mas eu sempre tive esperança na vitória... porque sabia que era preciso revolucionar o ciclo, acabar com a teoria ''sempre assim foi e assim continuará a ser.''
- Não. Aqui é o momento em que eu digo: sempre assim foi, e é aqui que acaba.
Porque existe uma razão para o artesanato morrer nas mãos dos mais sábios: porque está na altura de valorizarmos as coisas que temos, antes de as perdermos.
Comprovando a todos como as artes ancestrais podem coexistir num mundo moderno. E que cada peça proporciona uma razão para a existência da próxima geração de artesãos.
O artesanato dos dias de hoje é mais ''caro'' que antigamente, sim. Porque tem de o ser. Porque não é possível continuar a trabalhar nos mesmos moldes de antigamente, num mercado paralelo que nos levou onde estamos hoje: à beira do esquecimento. E em nós, consumidores, tem também de existir esta responsabilidade de saber que viver com menos, é, na verdade ter mais. Que investir em qualidade, é na realidade poupar.
Apesar de haver um maior investimento em cada peça, também haverá menos desperdício, mais intenção e amor por detrás de tudo o que fazemos, temos e somos.
Temos de compreender que nos dias de hoje não compramos meros produtos: compramos estórias, emoções, marcas com valores de vida que se alinham com os nossos. Isso é o verdadeiro luxo. E não é preciso ser rico para o ter.